domingo, 1 de novembro de 2009

Em algum dia de Julho.

Era eu, uma garrafa de dois litros de água fresca, uma série de adolescentes modernos e clichês, cinco amigos online, que no passado só eles bastariam, bastariam e ajudariam a melhorar meu dia por pior que tenha sido. Uma certa quantidade de viagens legais agendadas, a estréia de um filme que fazia parte de mim que se aproximava cada vez mais, alguns chocolates sobre a mesa, tempo nublado e chuvoso. Férias, sem lições, sem obrigações.
Tinha tudo pra ser um dia perfeito, mais faltava algo, faltava algo tão grande que às vezes quando me pegava sorrindo, eu parava e pensava: Espera, isso é certo? Quer dizer porque estou sorrindo?
E aquilo doía, doía, mais eu sabia esconder até de mim mesma, porque era uma dor caseira, uma dor conhecida, que há algum tempo já tinha feito de mim sua morada.
E eu me acostumei a ela, não, ainda é cedo pra mentir tanto assim, vou continuar apenas com a aquela mentira curta e tão conhecida: Eu estou bem, eu estou muito bem...


(Post velho)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Clichê é esperar.

Quilos de preocupação misturados com mais toneladas de sofrimento antecipado e masoquismo, eu diria que estes, me definem perfeitamente.
Lamentar antes, durante e depois é comigo mesmo, por mais que tenha dado certo, sei que reclamarei incansavelmente até o pior acontecer outra vez. Aí terei com o que sofrer, e tudo ficará bem.
Porque é isso mesmo, eu devo gostar de sofrer, não há outra explicação...
Mas se querem saber, fazia acho que talvez um mês que eu não sabia mais o que era sol, estava nublado e cinza, (literalmente pra variar) e o que eu mais queria era o meu sol, porque apesar de gostar do clima "cinzático", ser escrava dele por tanto tempo estava sendo... Ruim.
Não falo do sol que me torra e faz-me suar baldes, falo de alegria... Fiquei tanto tempo fingindo estar bem e não importar-me com nada, que logo percebi que estava transformando-me em um robô, onde risos eram feitos apenas com a boca, incapazes de alcançar os olhos, incapazes de serem verdadeiros.
BláBlá, mesma lenga-lenga de sempre, eu sei. É que é estranho, em uma hora eu quero tanto uma coisa, e de repente em outra eu a desprezo tanto quanto a queria. Sei que se fizer vou arrepender-me amargamente por ser tão idiota em insistir numa coisa tão inútil e indigna de merecer se quer 1 % de minha atenção. Mas sei que se não fizer, e o perder, ou alguém fazer em meu lugar, me arrependerei também, ou seja, pra onde correr? Estou empacada outra vez.
Definitivamente se eu pudesse voltar no tempo eu seria não; o retorno não chega, os dois lados que agora encontram-se opostos não andam, e todas as lágrimas derramadas foram em vão.
Com certeza eu faria, faria e faria agora. Eu seria NÃO.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

The Sea.

De fato faço do meu medo minha própria morada. Eu temo o mar, porém, sinto-me estranhamente bem e “em casa” quando me deparo a tamanha quantidade de água. Questiono a força da natureza, imaginando de segundos em segundos quando é que o mar recuará e formara uma onda gigante, de metros incontáveis, e assim destruir tudo, incluindo a mim.
Parecia um sonho, eu quase sempre sinto não estar acontecendo, quando algo está diferentemente perfeito demais... Bom, eu já comentei sobre o meu dia com a minha amiga virtual, que agora é real, no fotolog.
Só queria mesmo, que outras pessoas que nunca vi, pudessem estar ali comigo, mas acho que seria pedir demais, até porque, quem eu realmente queria, fazem parte de um passado que eu daria tudo pra voltar.
É lastimável, não consigo perder, parece que cada um que se vai é como se arrancassem um membro do meu corpo sem anestesia, lenta e dolorosamente.
Eu já devo estar aleijada de tudo tantas foram as pessoas que perdi, sejam estas, física ou/e sentimentalmente.
É estranho dizer que me importo agora, já que foram tantas as vezes que afirmei não fazer diferença ter alguém ou não... Acontece que é mais fácil fingir e fugir, é mais fácil mentir pra si mesmo do que encarar a verdade; ela machuca, ela te faz acordar de um mundo seu, onde é tudo como você quer, ou pelo menos como você desejaria que fosse.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sobre amanhã que é hoje.

Fora um ano dos piores e mais difíceis pra mim. O pior é que mesmo próximo, ainda não chegou ao fim.
Nem vou dar-me ao luxo de perguntar “o que mais de ruim pode acontecer?” É como se fosse um agouro que clama catástrofes daquelas bem cabeludas.
Certo; dentro de algumas horas estarei entrando em uma sala de aula, trocando olhares e encaradas nervosas com boa parte de pessoas que eu nunca vira na vida.
O nervosismo e insegurança é algo bem familiar quando se trata de eu ter que dar o meu melhor seja lá no que for. Mas especialmente em dias de provas, eu fico... A ponto de inchar (se que isso é mais possível) e por fim explodir (o que seria bom).
Pensar no futuro, criar responsabilidades, essas coisas todas chatas que somos obrigados a fazer em certo ponto em nossas vidas, nunca foi a minha cara, eu definitivamente não nasci pra isso. Se tem uma coisa da qual eu tenho 100% de certeza é que eu viveria em meu mundo particular pra sempre, e é claro... sozinha numa boa.
Sério, daqui a pouco vou quebrar a cabeça em uma prova, e se por algum milagre divino eu passar não vai ser nem de longe o que queria realmente fazer. Mas como eu não conseguirei nota boa no ENEM... Bom, digamos que eu desde pequena fui acostumada a sempre contentar-me com o pior.
A barriga está começando a dar puxões gélidos e frenéticos só para fazer lembrar que a cada volta dos ponteiros minha forca particular encontra-se cada vez mais próxima.
É claro eu estou exagerando, fazendo meu drama diária, fazendo-me de vítima, é o que todos pensam, mas nunca realmente imaginei que cabeças tão normais fossem capazes de interpretar a minha tão... Anormal.
Não bastasse minha auto-pressão psicológica, tenho de contar com a dos meus pais é claro, especialmente a do meu pai, o que se era de imaginar, é sempre assim...
Bom, eu realmente estou morrendo de sono, acordei muito cedo hoje e só parei pra sentar e pensar agora. Vou comer meu cereal da madrugada (eu o amo porque além de não ter gosto de nada, não engorda) e mergulhar na maior e fantástica aventura já criada nesse mundo, parece que é a única hora que sinto pertencer a algum lugar, é quando leio; principalmente se for HP.
Vou lá, meu verdadeiro mundo me espera, desejo-me desde já muita sorte e boa quantidade de arrependimento futuro por não me importar com nada.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Ah os Terráqueos...

Eu deveria estar lendo, estudando, fazendo coisas que as pessoas da minha idade nessa época são obrigadas a fazer. Ah, que coisa mais chata é ser um humano.
Você cresce preso em mundo seu, em um bolha que seus pais constroem justamente para te proteger da injusta verdade.
Então você cresce mais ainda, conhece pessoas que não tiveram essa bolha e aí elas estouram toda aquela sua impecável proteção; você passa a ver a verdade, custa a se acostumar a ela e tenta achar o seu lugar, até que finalmente você o encontra.
Então chega uma época em que você é obrigado a sacrificar diversão para algumas horas, dias, meses de estudo para quem sabe talvez, conseguir entrar em uma faculdade que nem era o seu sonho de verdade.
Aí você segue uma área que é totalmente diferente com o que você queria, é uma coisa chata e que você é péssima em fazer, mais dá dinheiro... Ah o dinheiro...
Acho que a culpa é toda dele, queria que houvesse uma solução para um mundo não-capitalista, não haveria bens e nem dinheiro para se roubar... Mais pensando bem, estamos falando de seres-humanos; não importa, eles arrumariam outra coisa para roubar; arrumariam outra coisa para se auto-destruir.
Você vai achar alguém e achar que pode suportar dividir o resto de sua vida ao lado dele, mais os anos vão passar, vocês terão alguns filhos, o custo médio salarial não vai mais bastar pra essa sua nova família se aquela faculdade que você fez era a que você desejava mesmo fazer.
Mas se você fez a outra que lhe proporcionaria mais vantagem de emprego com um custo de salário maior e avantajado, você e sua família estariam bem. Mais só financeiramente ok?
Seria como em filmes mesmo, um dia cansativo e estressante de trabalho (um trabalho que você detesta), uma janta em família tediante, alguns berros com seus filhos, outros com o seu marido/esposa, pra no final apenas... morrer.
Quer saber? Eu não quero nada disso...
Eu odeio esse planeta, odeio como as pessoas daqui vivem, eu definitivamente não sou daqui, não é à toa que não encontro o meu lugar. Não se pode achar o que não existe.

sábado, 19 de setembro de 2009

A lá Marte, a lá Forks.

Não me importou durante a volta em momento algum que a chuva refinada estragasse meu cabelo, eu gostava de sentir o toque suave de finas gotas geladas indo de encontro ao meu rosto.
A rua estava escura e vazia como sempre, exceto por algumas bicicletas que passavam rápidas ao meu lado, devia ter alguém as pilotando, não sei bem, nunca reparei...
O senhor com uma sacola cinza e um rosto que lembrava-me um lorde comandante inglês e homossexual que sempre dizia-me boa noite também era uma exceção, ele sempre estava lá, e eu nunca o respondera, não conseguia decifrar suas intenções.
Eu tinha mesmo era vontade de lhe responder de volta: “Boa noite, senhor”. Mais provavelmente ele me acharia uma vadia ninfeta, ou não... Não há como saber ao certo qual a sua real intenção.
Estava silêncio porque eu fazia estar silêncio, as pessoas ao meu lado que não paravam de tagarelar não incomodavam mais, eu simplesmente as desligava e fazia questão de demonstrar total desinteresse a conversa. Não gosto de conversar na volta.
Se eu tivesse meu mp4 velho ali todos os dias seria uma boa, mais como morar em Praia Grande significa que você tem 98% de chances de ser assaltada em qualquer bairro, bom, eu poderia cantar sem ouvir. Cantar mentalmente é claro, mais ao certo eu nunca conseguia isso, eu nem mesmo conseguia pensar mesmo achando que fazia isso o caminho todo, eu simplesmente me desligava de tudo, e só o que sentia era o toque leve e confortável da chuva.
Ah se eu não precisasse alisar meu cabelo, eu seria melhor amiga da chuva, seria sim.
Faltava apenas uma esquina então todos os outros menos um, melhor dizendo: uma, seguiriam para outra direção, era a pior parte, ela sempre tentava conversar comigo, eu tentava ser normal e respondia tudo que me perguntava. Era desconfortável claro, eu não ter assunto e ficar apenas calada o caminho todo, ainda faltavam tantas ruas... Ela poderia entrar na próxima e eu seguiria meu caminho sozinha.
Mais tudo bem, parece que quase um ano de prática me faz conseguir aparentar ser um pouco normal diante das pessoas da escola, só um pouco...
Não sei, achei que devia descrever minha rotina, quem sabe a lendo todos os dias me ajude a cansar mais rápido dela, e então eu começa a prestar a atenção no resto no meu dia e não somente quando volto pra casa e sinto a chuva leve a lá Forks me tocar.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Clichê, clichê, clichê!

Os prédios grandes e brilhantes eram os mesmos, as casas que começavam em subidas e terminavam em descidas eram as mesmas, as pessoas; bom, talvez elas não fossem as mesmas, exceto aquelas que eu já conhecia, e que tinha a consciência de que já veria mais uma vez.
O ar gélido, o cheiro ruim que eu tanto gosto e desejo fervorosamente um dia poder senti-lo todos os dias, eram os mesmos.
As minhas intenções, porém não eram as mesmas, os meus sentimentos então, também não eram.
Só o que eu queria era ficar lá e esperar, esperar acabar logo antes que minha vontade talvez voltasse, eu sabia que poderia enfim no dia seguinte arrepender-me; sabia também que poderia arrepender-me mais uma vez se fizesse. E eu gostava mais da idéia de arrepender-me pela primeira opção, pois da segunda eu já havia provado.
Sendo dessa forma, valeu cada minuto tedioso daquele domingo, valeu cada comentário clichê das mesmas pessoas da outra mesma e ao mesmo tempo diferente vez.
Eu tentava não lembrar daquelas férias, tentava não pensar em como eu me senti ao fazer o que tenho feito desde que isso tudo começou: esperar... apenas esperar e só isso mesmo nada mais; não havia, não houve e não há uma chegada; e isso eu já aceitei.
Na verdade eu já aceitei tudo, agora tenho é vergonha de lembrar o quanto eu achava que precisava daquilo daquela forma pra respirar. Eu ainda preciso, não há porque negar, só não mais daquela forma.
As desculpas também foram as mesmas, as atitudes continuam as mesmas, posso resumir dizendo que tudo foi a mesma coisa, exceto eu, é claro. Tirando apenas um detalhe eu não fui e nem sou mais a mesma; olhar o celular de segundos em segundos na inútil e fracassada esperança de que ele toque, rá, chega a ser cômico, é, nisso eu ainda não mudei. Mais tudo bem, o que era pior se foi, se foi da maneira mais dolorosa possível, mais ainda assim se foi.
Esse fim de semana foi esclarecedor, eu achava que não podia viver sozinha, achava que quando aqueles poucos que amo fossem um dia embora eu não suportaria continuar; mais se tem uma coisa que esse sagrado e tedioso fim de semana me mostrou foi que eu gosto, posso e preciso ser sozinha, eu não tenho mais nenhum tipo de metade, todas elas se quebraram, eu estou sozinha e gosto disso, e é assim que vou querer ser daqui pra frente. Sinto um alívio dos grandes ao perceber que não preciso mais de ninguém, me livrei daquilo que sempre desejei me livrar: pessoas. Eu não preciso delas, e nem elas de mim.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

LIFEplusLIFE

Ter duas vidas pode significar não ter nenhuma, já que a que mais lhe importa, não pertence realmente a você.
Então se a outra que não lhe importa muito, que só é vida, porque sua outra e verdadeira vida, é uma vida; deixar de existir tudo bem, mais se fosse a outra, bom aí talvez teríamos de procurar algum prédio bem alto, dar um último mergulho no mar, ou atravessar a rua pela última vez; não importa como, mais se esta deixar de existir, a outra deverá deixar também. Porque não existe vida sem uma outra... vida.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A menina e a xícara.

Havia uma menina... Havia uma menina e uma xícara quadrada, grande e da cor amarela com gatinhos espalhados aleatoriamente nas cores rosa, preto e roxo.
A menina amava aquela xícara, usava no café da manhã, no almoço e até mesmo na janta.
Ela a levava para todos os lugares em que ia mesmo não podendo fisicamente. Afinal o que pensariam as pessoas se a visse sempre carregando uma xícara para cima e para baixo? Então ela às vezes a encaixava em seu coração sempre que havia uma oportunidade de encaixa – lá, por mais tolo que fosse o momento de sua vida, ela o fazia. O fazia porque sentia que tinha de fazer, ela precisava daquela xícara, todos os dias, a cada hora. Era como se, sem ela, a menina não pudesse ser ela mesma. Era como uma parte chave que se encaixava perfeitamente, e ela tendo aquilo que a completava de todas as formas, sentia-se bem e feliz, mesmo que nada mais no mundo lhe restasse, mesmo se outras coisas que ela amava quase tanto quanto a xícara desaparecessem ou morressem, estaria tudo bem. Estaria tudo bem se a xícara ainda estivesse com ela.
Algumas vezes acontecia da menina deixá-la cair, algumas vezes acontecia da própria xícara cair por vontade própria.
A menina não gostava disso, não gostava quando ela caia por vontade própria porque era como se a xícara estivesse tentando ir embora, mais ela não poderia ir. Poderia?
Sim, poderia.
A xícara passou a se jogar e cair cada vez mais fundo por mais vezes. A cada queda, era como se a xícara andasse para fora de seu suposto encaixe, assim como quando há algo por sobre a mesa e batemos, batemos, e a coisa anda, anda, até que... cai.
Mais a menina não estava batendo, pelo menos não diretamente, na verdade ela batia porque queria que a xícara parece de cair.
As coisas já não eram mais como antes, a menina por algumas vezes sentia um estranho e forte impulso dela mesmo jogar a xícara de uma vez, mais esse pensamento era apagado instantaneamente, a menina não podia viver sem a xícara, a xícara era seu par, a xícara era sua vida.
As quedas continuaram, continuaram e chegaram a um ponto em que se fossem baixas ou altas, a diferença era a mesma, doía do mesmo jeito para a menina, e para a xícara também, pensam que não?
Doía para a xícara machucar a menina, mais ela não queria fazer parte daquilo, a menina não significava para a xícara o mesmo que ela significava para a menina.
Então ambas viviam infelizes, uma tentando procurar dores na outra, dores diferentes.
A menina queria que a xícara sentisse sua falta quando ela não estava por perto toda vez que se jogava. A xícara queria que a menina parece de tentar impedir, e a deixasse livre de uma vez por todas.
Mais a xícara era egoísta, ela queria sair do encaixe, mais também queria permanecer ao lado. E a menina não suportaria a ver fora dela, não suportaria a ver dentro de outro alguém.
Então ninguém se movia, procuravam a solução, uma solução que talvez não existisse sem dor, uma teria que sofrer, ou talvez as duas. De uma forma ou de outra uma sofreria mais, então essa era a questão.
As duas estavam cada vez mais cansadas, até que um dia a xícara resolveu se mover, ela teria que fazer isso um dia, sentia por ter que magoar a menina, mais não tanto assim...
Então ela fez, ela fez e pulou. Pulou com todas as suas forças que foram reservadas pra esse momento. Algumas vezes ela tinha optado por tentar ficar, mais não era ali o seu lugar.
E enquanto caia, sentia-se livre, sentia-se nova e... feliz.
A menina acordou e viu a xícara espatifada no chão, não há palavras ou algum tipo de frase que chegue perto de demonstrar sua dor, finalmente estava acabado, acabou. A xícara se quebrou, se quebrou em mais de mil pedaços, a menina chorou, sentiu uma agonia indescritível, pensou até mesmo que àquela hora seria uma boa hora para morrer...
Mais ela não desistiu, a xícara também não, ela já estava inteira para outras pessoas, talvez já dentro de algumas ou apenas uma delas.
A menina tinha de ver todos os seus dias a xícara inteira para outros e a xícara quebrada para si mesmo, embora fosse a mesma xícara, sentia que não a reconhecia mais.
Ela sofria todos os dias, acordava querendo dormir, e dormia já querendo acordar.
Por anos e anos, a menina tentou juntar os mais de mil pedaços e consertar a xícara. Tudo bem se fisicamente a xícara aparentasse ser horrível, com cola e super bonder misturados com pequenas faixas de adesivos que mantinham cada pedacinho grudado, estava tudo bem para a menina se por dentro a xícara ainda fosse aquela que a fazia se sentir tão bem e... completa.
Mais nem todos os pedaços foram achados claro, faltavam algumas partes então não era a mesma coisa. A menina não sentia nada além do desespero de querer sentir.
E quanto à xícara, a xícara estava bem ao seu lado, estava tão feliz quanto nunca fora antes, ela experimentava líquidos e pessoas novas e gostava disso, não sentia falta da menina, mais sentia remorso por vê-la tentar consertar as coisas sozinhas, sentia mais remorso ainda, por não querer ajuda - lá. Mais logo o remorso passava e ela voltava a viver sua vida normalmente bem.
A menina durante todos esses anos tentando conserta – lá, não olhou uma vez se quer para o lado, ela não queria saber daquela xícara que amava tanto, aquela que estava inteira e feliz sem sentir sua falta como ela sentia.
Então um dia ela acordou e percebeu que estava muito cansada, a xícara percebeu isso também, não queria mais ter de olhar aquela cena lamentável, ela sentia pena da menina, apenas isso: Pena.
A menina olhou seu trabalho pela última e dolorosa vez, quase mil pedaços colados. “Cômico!“. Ela pensou. Aquilo nem parecia a sua xícara, e descobriu que tentar consertar o que está quebrado é praticamente inútil se você tem a intenção de querer que tal seja a mesma.
Então ela olhou para seu lado, mais ignorou os fatos que acusavam de que talvez a xícara estivesse dentro de alguém. Ela a olhou bem, como quem se despede de um pai ou uma mãe, ou talvez um irmão, consegue imaginar a dor?
Com uma voz fraquinha e baixa, quase um sussurro inaudível disse:
-Então é isso. Coisas que são quebradas uma vez, não podem ser consertadas. Caso eu esteja errada, sempre que consertamos algo, restam danos, e nunca, nunca volta a ser como antes.
A xícara concordou por dentro sem ter coragem de lhe falar, não queria causar mais dor aquela menina.
Então a menina pegou sua xícara quebrada e a jogou mais uma vez ao chão.
Dessa vez o barulho foi ensurdecedor e uma luz forte e brilhante encheu o cômodo cegando a menina e a xícara inteira ao seu lado.
Assim que a luz as deixou enxergar novamente, pôde-se ver o que sobrará da antiga xícara remendada.
Três ou quatro pequenas lascas de porcelana sem cor, a menina os fitou e percebeu o quanto fora fácil, não sentia, como achou que faria, que iria correr para o quarto e chorar noite e dia, até que alguém encontrasse seu corpo desnutrido e morto ao chão. Não! Ela não sentia isso, ela simplesmente não sentia nada.
Apenas sabia que afinal poderia ficar bem sem aquele alguem cuja algum dia fora o alicerse de sua vida, ela estava sozinha, ela estava sem seu par mais ficaria bem, finalmente bem.
A menina depois disso, parou para sempre de olhar para o seu lado, nunca mais viu a xícara e tão pouco sentia sua falta.
A xícara porém não ficou muito bem não, até hoje não se recuperou do choque de ter perdido a menina, afinal ela a amava também, só descobriu um pouco tarde, mais ainda assim... amava.
-Mais nada que com o tempo possa ser superado. – Pensou a xícara. Ela gostava de se fazer de forte, na verdade ela era realmente forte e logo esqueceria.
Até que aconteceu, ela parou e esqueceu. E ninguem nunca mais olhou para os lados, tudo estava bem.
E além de três ou quatros lascas, só o que sobrou foi o vazio de ambas, que nunca, de forma alguma poderia se repreencher outra vez. Jamais.